Contato

Contato: dumachado10@yahoo.com.br

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O sono das águas

(Foto: Michelle Lima)

O sono das águas*
Há uma hora certa,
no meio da noite, uma hora morta,
em que a água dorme.


Todas as águas dormem:
no rio, na lagoa,
no açude, no brejão, nos olhos d’água,
nos grotões fundos
E quem ficar acordado,
na barranca, a noite inteira,
há de ouvir a cachoeira
parar a queda e o choro,
que a água foi dormir…
(Foto: Du Machado)

Águas claras, barrentas, sonolentas,
todas vão cochilar.
Dormem gotas, caudais, seivas das plantas,
fios brancos, torrentes.
O orvalho sonha
nas placas da folhagem
e adormece.
Até a água fervida,
nos copos de cabeceira dos agonizantes…

Mas nem todas dormem, nessa hora
de torpor líquido e inocente.
Muitos hão de estar vigiando,
e chorando, a noite toda,
porque a água dos olhos
nunca tem sono…
(João Guimarães Rosa)

*Esta poesia está no livro Magma. Único livro de poesia de Guimarães Rosa editado.



Nenhum comentário:

Postar um comentário