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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A tradição dos Reis Magos

Os Reis Magos

 
 Três Reis Magos (1915) por Henry Siddons Mowbray (1858-1928)

Recebi enorme influência artística de festas populares. E uma das mais importantes em minha vida que de certa forma molda o meu espírito artístico/místico são as festas de Folias de Reis. Guardo em meu espírito um respeito enorme por motivos pessoais e especiais. Na maioria das vezes essas festas dramatizam a visita em que os Três Reis Magos fizeram ao menino Jesus. Mas o que são e quem são esses Reis Magos que levados pela estrela do oriente foram de encontro ao filho de Maria? Encontrei esse artigo de Affonso M. Furtado da Silva que trata da temática de forma muito interessante. Vale muito a pena conferir. Boa Leitura!

O Folclorista Affonso M. Furtado da Silva escreve sobre as orignes das tradicoes do reisado, remontando ao texto Bíblico.

As celebrações em louvor aos Reis Magos ocorrem basicamente entre o Natal e 6 de janeiro, dia de Santos Reis: é o terceiro momento do ciclo festivo do Natal, que se integra ao patrimônio artístico e cultural. Para alguns, esta alegre manifestação de religiosidade popular teria surgido entre nós; entretanto, ela se originou bem mais remotamente. 
Esses personagens bíblicos surgem no capítulo 2 do Evangelho de São Mateus, no episódio da Adoração dos Reis Magos, que a eles alude vagamente, sem especificar nomes, categorias, número ou procedência. Após meditação exegética, Apologistas e os Pais da Igreja - Gregório, Ambrósio, Jerônimo, João Crisóstomo, Agostinho e Tomás de Aquino, entre outros, formularam os primeiros dogmas e rituais cristãos e se manifestaram sobre os Magos.

No século VI, os Magos já eram considerados "Reis" e o Papa Leão I, o Grande, fixou-os em número de três. No século XII, em documento atribuído ao monge beneditino inglês Beda, surgem os nomes definitivos: Gaspar, Balthazar e Melchior, e suas descrições foram estabelecidas. 

 (Os Três Reis Magos em um mosaico do final do século VI em San Apollinare Nuovo)


Os Magos influenciaram artes e tradições populares desde os primórdios da cristandade. O pesquisador francês Gilbert Vezin, autor da obra clássica "L´Adoration et le cicle des Mages dans l´art chrétien primitif " afirma de modo categórico: "O tema da Adoração dos Magos foi o assunto mais popular e frequente que se expressou na Arte, no Oriente e no Ocidente". Na Idade Média, em Creccio-Itália, São Francisco de Assis concebeu, em 1223, a representação da cena da natividade (Presépio), na qual se incorpora a figura dos Reis Magos.

Esta criação difundiu-se por toda a cristandade, dando notável impulso ao processo de evangelização da doutrina cristã, passando a estar também presente nos lares mais humildes em zonas rurais e pequenas localidades distantes dos aglomerados urbanos. Surgiram também estórias e lendas envolvendo os Reis Magos, no sentido de "(...) complementar o que faltava à imaginação popular (...)", anota o historiador de arte francês Émile Mâle, em artigo publicado nos alvores do século XX, na Gazette de Beaux-Arts.

Prossegue o autor: "O povo achava os evangelhos muito suscintos(...).Nenhuma das cenas da infância de Cristo forneceu mais material para o povo que a ´Adoração dos Magos´. Suas misteriosas figuras mostradas veladamente nos evangelhos despertavam ávida curiosidade nas pessoas." Dentre essas histórias, sobressai o manuscrito Historia Trium Regum de Johannes von Hildesheim, carmelita alemão e professor de teologia em Paris, publicado entre 1364-1375, para elucidar a origem dos Magos.

Seus restos mortais, transladados do Oriente para o continente europeu, estiveram desde o século VII abrigados inicialmente num modesto templo construído à época nos arredores de Milão - Itália. A partir de 1164 seguiram para a Alemanha e foram abrigados numa urna dourada instalada no altar mor da Catedral de Colônia. Esta grandiosa obra de arte-ourivesaria passou a ser conhecida como "Relicário de Santos Reis".

Adoração dos Reis Magos, 1501-6, Vasco Fernandes - óleo sobre madeira, 130,2 x 79cm, Museu Grão Vasco, Viseu


IDADE MÉDIA

O texto de Hildesheim mereceu ensaio crítico, na reputada coleção Early English Text Society, em 1876, assinada por seu presidente C. Horstmann, reconhecendo "o grande número de manuscritos espalhados na Inglaterra e por toda Europa cristã, o que comprova a grande popularidade do referido manuscrito". E conclui: "(...) o assunto dos Três Reis Magos tornou-se um dos temas favoritos da Idade Média, eram os santos mais populares do mundo cristão". Afora a Terra Santa, as peregrinações a Colônia só eram suplantadas pelas de Roma e de Santiago de Compostela.

Os jesuítas que aqui aportaram com o primeiro Governador Geral Tomé de Sousa, em 1549, utilizavam essas tradições sob forma de canto, dança e encenação, na catequese e no ensino a indígenas e colonos portugueses - reinóis. Anchieta, o precursor das letras brasileiras, formado na escola de Gil Vicente, compôs (a pedido do Padre Manuel da Nóbrega), ensaiou e representou sua peça Pregação Universal, reintitulada Na Festa de Natal, na igreja dos Jesuítas em São Paulo de Piratininga (atual cidade de São Paulo), no Natal de 1561, no Ano Novo e Dia de Reis de 1562. Nesse Auto, insere-se ato com a presença dos Reis Magos.


"Festas de Folias de Reis são hoje uma das mais representativas manifestações populares  que celebram o ciclo natalino. De aspecto sagrado, musical e teatral narra na maioria das vezes a visita dos Três Reis Magos que levados por uma estrela divina vão de encontro ao menino Jesus."

 Encontro Folia de Reis, realizado em 2007 na Praça Cel.Carneiro em Uberlândia - MG

TEATRO

Sobre o auto, o Padre Armando Cardoso, em obra sobre o teatro anchietano, assegura que a peça foi encenada noutros núcleos jesuítas, no litoral brasileiro. Um deles, o dos Reis Magos, localizava-se no Espírito Santo, 20 km ao norte de Vitória - atual localidade de Nova Almeida-, sendo aí erigida a igreja dos Reis Magos, marco jesuítico no Brasil, tombado pelo IPHAN, em 1943. 

Outro registro consta do Compêndio Narrativo do Peregrino da América, de Nuno Marques Pereira, citado por Luiz da Câmara Cascudo: "desses grupos pedindo os Reis (no sentido de oferta) na Bahia, na segunda metade do século XVII". Do Compêndio, o etnógrafo português Leite de Vasconcellos extraiu comentário sobre a presença de mascarados(sic) nas peças jesuítas. 

 Foto colhida do site: www.marombo.com.br

O escritor Graciliano Ramos, atento observador de nossos costumes, no conto Um Natal, escreveu: "O Natal, festa profana, alcança duas outras; Ano Bom e Reis. Vice-presidente da Comissão Nacional de Folclore; Membro do Conselho Estadual de Cultura/RJ; Federação do Reisado do Estado do Rio de Janeiro; Autor de "Reis Magos: história, arte e tradições" (2006)

AFFONSO M. FURTADO DA SILVA

Fonte: http://casasantosreis.wix.com/casasantosreis#!documentary/ck0q






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